Curitiba, 17 de maio de 2018, escrito por Gilson Rodrigues. A prática de perfurar a pele e usar vários tipos de adornos não é uma novidade. Há registros de que esse costume existe há pelo menos 5 mil anos, como demonstram as evidências encontradas por pesquisadores. Este hábito voltou a ser uma tendência e é denominado body piercing.
A palavra piercing vem do inglês e quer dizer “perfuração”. Assim, body piercing refere-se à perfuração do corpo e possui diversos significados, sejam eles religiosos ou meramente estéticos.
Não se pode afirmar com certeza quando iniciou-se tudo isso ou se o costume do piercing precede o da tatuagem.
Todavia, atualmente sabemos que no Egito Antigo, esse hábito já existia. Os faraós, por exemplo, tinham o costume de usar piercing no umbigo, um privilégio que era apenas para a realeza.
Na América Central, os maias utilizavam o body piercing de uma maneira diferente: era comum furar os lábios, as orelhas e o nariz, uma tradição que demonstra que a arte não conhecia fronteiras e era adotada em várias partes do mundo, mesmo em locais bem distantes uns dos outros.
Antes mesmo de os europeus descobrirem a América, os esquimós já praticavam o piercing. No Polo Norte, o costume era perfurar os lábios de jovens do sexo masculino, simbolizando que eles estavam prontos para participar de caçadas, funcionando assim como um rito de passagem para a vida adulta.
Em contrapartida, na África, o body piercing integra a cultura dos habitantes de Nova Guiné, que utilizavam ossos para decorar seus corpos. Este costume tinha um significado místico para os nativos: acreditava-se que os ossos poderiam transferir todas as qualidades do animal de onde foram retirados para a pessoa que os utilizava.
Ainda na África, os guerreiros Potok seguem esse padrão de piercing, mas ao invés de ossos, usam folhas de árvores atravessadas no nariz.
Recuando às Américas, entre os Astecas, o body piercing era bastante disseminado, servindo especialmente para distinguir os sacerdotes. Nesses casos, era comum o uso de piercing na língua, uma prática que ainda é popular entre os entusiastas de body piercing nos dias de hoje.
Porém, diferentemente dos astecas que acreditavam que o piercing na língua facilitava a comunicação com os deuses, hoje em dia é meramente um acessório decorativo.
O Body Piercing, Seus Locais no Corpo e Significados
O body piercing, quando inserido, assume diferentes significados de acordo com a localização no corpo, conforme explicado a seguir:
Tribos da América Central e do Norte utilizavam o piercing na língua, acreditando que ele facilitava acordos e melhorava a comunicação com divindades. Com a perfuração, o sangue era usado em rituais. No presente, o piercing na língua é mais associado ao simbolismo sexual, exalando sensualidade e estimulando o sexo oral.
O piercing no nariz fazia parte de práticas culturais e religiosas de tribos indígenas nas Américas. Na Índia, essa tradição é preservada até hoje, sendo comum entre homens e mulheres, denotando tanto uma crença religiosa quanto o estado civil. Nos dias de hoje, embora seja um adorno bastante popular, é mais visto como uma expressão de moda e estilo.
Nos lábios, o body piercing era utilizado por indígenas brasileiros e africanos, que buscavam imitar divindades. Atualmente, tornou-se um adorno que pode ser aplicado em diversas regiões dos lábios.
Historicamente, não há registros de piercing nas sobrancelhas em civilizações passadas. Contudo, este se tornou comum, especialmente entre os homens, embora mulheres também o utilizem. É visto como um sinal de liberdade, autoconfiança e uma expressão de rebeldia.
Piercing no umbigo remonta ao Egito Antigo, onde era exclusivo das famílias reais. Atualmente, é um dos locais preferidos, especialmente entre mulheres, por expressar sensualidade e beleza. Além disso, aumenta o prazer no sexo devido à fricção com a pele.
Escolhas Individuais na Antiguidade e Nos Tempos Atuais
Pesquisadores estudam o body piercing e descobrem que ele foi, ao longo do tempo, uma expressão religiosa, um indicativo de status ou uma escolha pessoal como adorno corporal.
Nos dias atuais, o piercing está mais voltado para a estética, sem qualquer associação mística, servindo apenas como um ornamento que ajuda a destacar uma pessoa.
Diferentemente dos tempos antigos em que utilizavam materiais como ossos, hoje, as joias e objetos para piercing são muito mais diversificados e sofisticados, realçando ainda mais a arte de adornar.
O corpo adornado com piercings é uma prática que se observa até entre os índios Kayapós no Brasil, que perfuram as orelhas dos bebês e decoram o lábio inferior.
Assim, a cultura do body piercing é ancestral, presente em quase todas as civilizações ao longo da história.
Nos séculos 18 e 19, a prática de adornar o corpo com piercings era comum entre os aristocratas, no entanto, com a evolução dos sistemas de governo, caiu em desuso, principalmente no começo do século 20. O brinco permanece como um adorno bastante usual entre mulheres.
Todavia, a partir da década de 1970, o piercing voltou a ser valorizado por artistas e pessoas ligadas à moda, ganhando ainda mais popularidade a partir da década de 1990.
Originalmente, o body piercing na orelha indicava pertencimento a uma classe abastada. Contudo, atualmente, é o estilo de piercing mais frequente, sem ligação com nobreza ou riqueza.
Piercings no nariz, que são comuns hoje, já eram usados há mais de 4 mil anos no Oriente Médio e chegaram à Índia no século 17, onde são conhecidos como nostrils. Nos anos 1980 e 1990, hippies introduziram essa tendência no Ocidente, posteriormente adotada por punks e outros grupos.
Entre Astecas e Maias, o piercing na língua era predominante, mas reservado aos sacerdotes, que acreditavam que aprimorava seu contato com os deuses.
O piercing nasal de hoje perdeu o significado espiritual, mantendo-se como símbolo de sensualidade, enquanto muitos ainda optam por usar joias de ouro na língua.
Os mamilos se tornaram uma área popular para o body piercing, antigamente simbolizando vigor, energia, e marcando a transição para a vida adulta.
Na Inglaterra do século 19, as mulheres popularizaram o piercing nos mamilos. Atualmente, tanto o piercing no umbigo quanto nos mamilos são vistos como representações de sensualidade.
Materiais Utilizados no Body Piercing
Piercings podem ser fabricados em diversos metais, como teflon ou titânio, materiais que não causam alergia ou inflamação. Entretanto, certos materiais ainda podem provocar reações.como algumas reações alérgicas, uma situação que acontece, por exemplo, com o ouro em certas pessoas.
Otzi, encontrado nos Alpes, conhecido como o homem do gelo, é a múmia mais antiga do mundo e apresentava perfurações nas orelhas. Otzi viveu por volta de 3.300 AC, ou seja, ao menos 2 mil anos antes de King Tu, a múmia egípcia que também tinha orelhas furadas. Esse costume atravessou séculos, chegando ao Império Romano e influenciando até o imperador Júlio César.
É curioso notar que, para os marinheiros a partir do século 17, o piercing na orelha tinha outro significado. Os marinheiros perfuravam as orelhas para usar brincos valiosos, que seriam utilizados posteriormente em seus próprios funerais.
Por outro lado, algumas tribos primitivas acreditavam que o body piercing nas orelhas agia como proteção contra espíritos malignos. Conforme essa crença, um piercing na orelha impediria que espíritos influenciassem negativamente e falassem com a pessoa.
Em diferentes culturas antigas, além do piercing, também havia a prática de alargar as orelhas, criando tampões que são observados em alguns fãs mais radicais de piercing. Nas Américas, povos como os Maias e Astecas adotavam esse hábito como símbolo de nobreza, usando materiais como prata, enquanto na África, o marfim era preferido, e no Oriente, até velas de âmbar eram utilizadas.
Na Índia, a prática de body piercing no nariz começou entre os imperadores Mughal, e as mulheres costumavam usar na narina esquerda. Essa tradição está ligada à crença de que o lado esquerdo do corpo é feminino, e com o piercing, as mulheres sentem menos dores durante o parto e menstruação.
Ainda nos dias de hoje, é habitual, no Oriente Médio e no norte da África, os noivos presentearem suas noivas com piercings de ouro como parte da cerimônia nupcial. Entre esses povos, o tamanho do piercing também é um indicador de classe social, ou seja, um piercing grande e cravejado com pedras é característico dos ricos, mostrando que podem sustentar suas famílias.
O septo nasal é outro local popular para o body piercing, situado na região inferior do nariz, entre as narinas. Para os Maias, Astecas e Incas, o piercing nessa área era uma forma de evocar os deuses.
Na Índia e no Nepal, o hábito do piercing era mais associado à saúde, com a crença de que poderia ajudar a prevenir infecções e doenças, enquanto na Austrália, aplicava-se esse tipo de piercing para tornar o nariz mais atraente.
Tradições e Costumes do Body Piercing
Dentre as tradições que despertam curiosidade estão os grandes pratos nos lábios, visíveis em tribos brasileiras e africanas. Apenas algumas tribos mantêm essa prática, carregando um significado simbólico.
Por exemplo, os Dogons usavam os pratos nos lábios para representar a criação do mundo, homenageando a deusa Noomi. Já para os Makolo, funcionam como enfeites, enquanto na Índia, são utilizados como parte do dote matrimonial.
Piercings na língua, por sua vez, eram típicos em rituais de sacrifício de sangue e, em algumas culturas, perfuravam a língua acreditando que favorecia a circulação sanguínea e criava estados alterados de consciência.
Atualmente, piercings na língua são vistos como um elemento para surpreender os conservadores e melhorar a atividade sexual oral.
O body piercing, em contrapartida, já foi motivo de pena capital. No Egito Antigo, qualquer pessoa fora da realeza que fosse pega usando esses ornamentos estava sujeita à morte.
Com o tempo, o body piercing também enfrentou preconceitos, assim como ocorre hoje. Um dos exemplos é o piercing no umbigo, que foi associado à imagem da vagina e, consequentemente, marginalizado em contextos mais puritanos.
Entretanto, por vários anos, o body piercing integrou a moda, como aqueles nos mamilos que podiam ser trocados conforme a vestimenta e eram considerados um acessório até o final da Idade Média. Para os romanos, especialmente, simbolizava vitalidade sexual nos homens.
Além disso, perfurar o corpo também tinha fins médicos no século 19, quando os médicos incentivavam mulheres a colocar piercings nos mamilos para aumentar o prazer sexual e proporcionar uma amamentação mais fácil.
Decorar o corpo sempre foi uma constante na história da humanidade. Com os avanços tecnológicos, hoje ficou ainda mais acessível. Um exemplo atual são as mulheres, que tem buscado o microblanding; você pode conferir mais sobre isso em outro artigo.
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